Quando interesses de grupos minoritários prevalecem sobre o bem comum, um sinal de alerta vermelho precisa soar em nossas mentes e corações. É hora de parar e refletir sobre o que está acontecendo no Brasil: um retrocesso.
Mas não há tempo para “Fórum de Discussões” porque o prazo venceu. De um lado ruralistas vitoriosos e do outro, ambientalistas chocados e indignados. O que estava ruim está prestes a piorar ainda mais.
Acontece que o que está acontecendo vai além de duas forças ruralistas x ambientalistas, porque as conseqüências atingem a todos: toda a população brasileira, todos os setores econômicos e o mundo. Sim, o mundo, pois vivemos no mesmo mundo, na mesma Terra, da qual a humanidade faz parte e quando resolvem desmatar um pouquinho mais aqui no Brasil ou ali na China, os efeitos são sentidos por todo o mundo.
O retrocesso brasileiro do Código Florestal é vergonhoso, é uma afronta a humanidade, é um andar na contra-mão. Caracteriza-se pela falta de sentimento, de sensibilidade, de visão de futuro, de um grupo minoritário que insiste em um capitalismo selvagem, patético, agressivo e regressivo. Visam apenas o lucro imediato, a qualquer custo, mesmo que seja em detrimento da natureza e de valores humanitários. O próximo passo, pode ser a defesa do retorno a escravidão, em nome do desenvolvimento de uma faixa agrícola sem limites. Estão anistiando criminosos, sob o sentimento de impunidade dos grandes crimes ambientais que foram cometidos no Brasil, os quais os culpados nada sofreram. Multas que não foram pagas, árvores que não foram replantadas, vista grossa de uma política ambiental, de leis, que com o passar dos anos foram cada vez mais ficando desgastadas, afinal foram escritas em 1965, no século passado. Ao todo 46 anos de pedrinhas na chuteira dos “coronéis” dos agronegócios. Já era hora de fazer uma revisão no Código Florestal. Como os ambientalistas não o fizeram, tomaram a frente os “coronéis”, se organizaram, semearam e plantaram. Encontraram terreno fértil em um parlamento para o qual não existe natureza, nem ecossistemas frágeis, nem outros seres que tem direito a vida, nem biosfera, apenas enxergam a lucro-esfera, ambiente no qual se desenvolveram. A semente germinou e cresceu nesse ambiente interesseiro e oportunista, ontem, dia vinte e quatro de maio de dois mil e onze, fizeram sua primeira colheita. Colheita maldita: atualizaram o Código Florestal, não com parâmetros atuais ou de futuro, mas com as premissas estereotipadas de um pensamento retrógrado, anterior, até mesmo, a época da criação do Código de 65. Só faltou mesmo a cláusula da escravidão... mas esta deve ser em outro livro.
O retorno do coronelado, em pleno século XXI, de mudanças climáticas, da energia alternativa, da proteção da natureza, foi chancelado com o assassinato do casal de ambientalistas no Pará. Não há limites, não há ética, não há valores que não sejam os econômicos e políticos.
Se assistimos a retomada do poder dos coronéis, precisamos questionar o papel do movimento ambientalista nas últimas décadas no Brasil e o modelo de desenvolvimento econômico adotado.
Apesar de o debate ambiental ter ganhado força em conselhos, fóruns e na mídia, a causa em si, parece ter sido esvaziada e transformada em ações intelectuais e burocráticas. O movimento ambientalista brasileiro se institucionalizou, virou projeto de ONGS patrocinadas por grandes corporações que utilizam do marketing verde para disfarçar suas ações poluidoras. Aos pouco se diluiu em campanhas e propagandas cada vez mais politicamente corretas e se distanciou da militância ecológica. Perdeu o seu espírito de combatividade, de ação em grupo, de massa, tornou-se passiva, virou negócio de intelectual e de executivos bem pagos para exercer cargos de diretoria em organizações não governamentais.
A ação mais contundente realizada foi à tentativa de uma enxurrada de emails para os políticos insensíveis. Resultado 450 votos a favor, 63 contra. Resultado vergonhoso. É preciso endurecer, mudar a estratégia de forma rápida, impactante, sair da internet, do virtual, do papel, da intelectualidade, pois esta batalha está sendo travada no “ campo”. Precisamos de guerreiros.
Onde estão os Guerreiros do Arco Íris? Onde estão os militantes ecológicos deste país? Caras pitandas. Onde estão as pessoas comprometidas com o ideal, a causa? O que diriam os que deram a vida para salvar a Natureza como Chico Mendes e Augusto Ruschi, patrono da ecologia no Brasil, que pegou em arma para defender as florestas ? Radicais sim! Mas foram eles que já naquela época tiveram coragem de enfrentar os coronéis e começaram o movimento ambientalista no Brasil, não ao que assistimos hoje, mas a militância ecológica que existiu em tempos que foram esquecidos, afinal o brasileiro tem memória curta.
Não podemos decepcionar a memória desses grandes homens que deram suas vidas; de todos os ambientalistas conhecidos ou desconhecidos que morreram em nome da defesa da Natureza, das florestas e rios deste país “gigante pela própria natureza”. Precisamos defender a todo o custo o que temos de mais precioso, a nossa Natureza ainda intocada, preservada, nossas fontes de água, nossa biodiversidade, nosso tesouro cobiçado pelo resto do mundo. Podemos, ser um país modelo, em desenvolvimento sustentável, em alternativas éticas e vigorosas de como viver em harmonia com a natureza.
Em 2012, esta prevista para acontecer na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O encontro recebeu o nome de Rio+20 e visa a renovar o engajamento dos líderes mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta, vinte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Serão debatidos a contribuição da “economia verde” para o desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza, com foco sobre a questão da estrutura de governança internacional na área do desenvolvimento sustentável. Com que moral, projetos, ações, vamos contribuir para uma “ economia mais verde”?
Talvez a resposta seja com a alteração do Código Florestal, a derrubada de florestas, o aumento de fronteiras agrícolas, a diminuição das matas ciliares, a impunidade para crimes ambientais, a perda da biodiversidade, o aumento da contribuição dos gases do efeito estufa, com a volta do “coronelado”, com o desenvolvimento a qualquer custo em nome do progresso...
Cabe perfeitamente aqui a profecia indígena:
"Quando a última árvore for derrubada, o último rio secar, o último peixe for morto, é que o homem branco vai saber que dinheiro não se come..." e que empurramos com a barriga, alegres e irresponsáveis, nossa nação para a destruição. E pesará sobre nós a culpa. Porque a natureza é a mesma para todos. Ela é implacável na hora das respostas: furacões, inundações, doenças. E elas virão desgraçadamente sobre todos nós, sejam coronéis, políticos, plebe ou burocratas ambientais.
Escrito por: José Francisco Matulja
http://viajelivreporai.blogspot.com/
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